sábado, 31 de outubro de 2009

Reforma: um movimento inacabado


O dia 31 de outubro de 1517, sem sombra de dúvidas, marcou a história mundial, pois foi nessa data que teve início o processo da Reforma Protestante - movimento reformista cristão iniciado no século XVI por Martinho Lutero, que, através da publicação de suas 95 teses, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica, propondo uma reforma no catolicismo.

O monge alemão Martinho Lutero foi um dos primeiros a contestar fortemente os dogmas da Igreja Católica, muito embora as idéias reformistas já estivessem na atmosfera teológica desde a Baixa Idade Média entre os hussitas, os valdenses e os lolardos, por exemplo. Suas teses condenavam a venda de indulgências e a imoralidade do clero. De acordo com Lutero, a salvação do homem ocorria pela fé somente. Embora tenha expressado opiniões contrárias à acumulação egoísta de bens materiais, teve grande apoio dos reis e príncipes da época. Em suas obras, condenou o culto à imagens e revogou o celibato.

Segundo Lutero, gastos com luxo e preocupações mundanas estavam tirando o objetivo católico dos trilhos. Muitos componentes do clero estavam desrespeitando as regras religiosas, principalmente no que diz respeito ao celibato. Padres que mal sabiam rezar uma missa e comandar os rituais, deixavam a população insatisfeita. No campo político, os reis estavam descontentes com o papa, pois este interferia muito nos comandos que eram próprios da realeza.

O homem renascentista começava a ler mais e formar uma opinião cada vez mais crítica. Trabalhadores urbanos, com mais acesso a livros, começaram a discutir e a pensar sobre as coisas do mundo.

Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus provocando uma revolução religiosa, iniciada na Alemanha, e estendendo-se pela Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste europeu, principalmente os Países Bálticos e a Hungria. A resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido como Contra-Reforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento.

Apesar de comemorarmos a Reforma em um dia específico do ano, não podemos considerar a Reforma um simplesmente como um evento pleno e acabado. A Reforma foi um movimento que, em muitos aspectos, continua acontecendo até hoje. Um dos motes do protestantismo, Ecclesia reformata semper reformanda, expressa bem essa idéia. Os ideais nutridos pelos Reformadores como retornar a uma fé depurada das tradições espúrias; voltar às fontes da doutrina cristã, especialmente às Escrituras Sagradas; e viver uma vida voltada não para as glórias pessoais mundanas, mas para glória de Deus e em consonância com o exemplo de Cristo, devem continuar a ser os nossos ideais.

Veja alguns títulos da nossa biblioteca a respeito da Reforma:

A força oculta dos protestantes de André Biéler, Editora Cultura Cristã

A Igreja da Renascença e da Reforma de Daniel-Rops, Editora Quadrante

As institutas de João Calvino, Editora Cultura Cristã

As origens intelectuais da Reforma de Alister McGrath, Editora Cultura Cristã

John Hus (1977), DVD

Lutero de A. de Saussure, Editora Vida

Lutero (2003), DVD

Martinho Lutero: obras selecionadas v. 1 a 10 de Martinho Lutero, Editora Sinodal

O fora-da-lei de Deus - William Tyndale (1987), DVD

Teologia dos Reformadores de Timothy George, Editora Vida Nova

Uma história do pensamento cristão v. 2 e 3 de Justo Gonzalez, Editora Cultura Cristã

Uma história ilustrada do cristianismo: A era dos Reformadores de Justo Gonzalez, Editora Vida Nova

Por Priscila Rocha e Rodrigo Silveira

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Oração para que eu seja um bom samaritano


Novamente divulgamos um poema de Gióia Jr., esse talentoso poeta cristão brasileiro, que fala de uma história do Novo Testamento. Trata-se da parábola do bom samaritano. No poema que segue, um soneto, o poeta expressa o seu desejo de ser mais como o samaritano, que não ostenta nenhuma aura de santidade ou de religiosidade especial, mas ainda assim é o único que pratica a verdadeira religião, cuidando do homem ferido no caminho, ao contrário do sacerdote e do levita que, apesar de "religiosos", nada fizeram. Afirma o poeta que a vida é como aquele caminho, ao longo dele há muitos feridos. Sejamos, portanto, samaritanos no caminho da vida.


Oração para que eu seja um bom samaritano

Por Gióia Jr.


A nossa vida é um caminhar também

do pó primeiro ao derradeiro pó...

Partimos de qualquer Jerusalém

Para alcançar alguma Jericó.

Vamos assim despreocupados, sem

Pensar... e vemos, atirado e só,

Um pobre peregrino, sobre quem

Socos e pontapés deram sem dó...

Seja eu que caminhe de alma aflita

E veja o réu da fúria do chicote

Para que num esforço sobre-humano,

Mate a minha tendência de Levita,

Dobre o meu coração de sacerdote,

E surja como um Bom Samaritano!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A responsabilidade social da Igreja


A ênfase do mês de outubro é a responsabilidade social da Igreja.
Neste mundo imperfeito, a injustiça e a opressão mantem muitos famintos, ignorantes, excluídos, pessoas sem esperança, sem amor.

Encontramos no livro de Tiago o seguinte questionamento:
“Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhe disser Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? (Tg 2.15-16)


E encontramos também a solução para essa questão...
“Assim também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.”
“Porque, assim como o corpo sem espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.” (Tg 2.17, 26)

Assim, à nossa fé devemos somar ações. O Senhor dos Exércitos, o Deus que conhecemos, é um Deus de ações!
“Foi esse Deus de justiça ativa, poder ativo, compaixão ativa, que caminhou no meio da pobreza, na pessoa de um frágil ser humano”, diz Viv Grigg* na apresentação de seu livro “Servo entre os Pobres - Cristo nas favelas urbanas” (Ultimato, 2008).

Grigg, um neo zelandês que viveu em favelas de Manila, Filipinas, comenta que seu livro “é a história de um rico ocidental tentando entender o discipulado no contexto de tal injustiça, pobreza e corrupção – que coincide com o contexto social da maior parte das Escrituras.” (p.11)

Leia um trecho do livro:

“Parei em cima de uma poça de lama acumulada debaixo de um varal cheio de roupas. Fiquei procurando, confuso, pela bomba d’água naquele labirinto de concreto e casebres de madeira compensada. Encontrei-a no final de uma fila de baldes vermelhos, verdes e azuis. Parei junto a um pequeno portão e me deparei com várias pessoas ali em volta, esperando sua vez enquanto aproveitavam o sol da manhã. Duas meninas com roupas remendadas, cabelos negros brilhantes e bem penteados, estavam de cócoras, lavando roupas em grandes bacias de alumínio. Uma delas voltou o olhar para minha barba e pele clara.
— É Jesus! — ela exclamou em tagalo, a língua de Manila, tocando levemente a companheira ao lado.
— Não, é apenas meu amigo!
Também sorri. Hesitante, coloquei meu balde no final da fila.
— De onde o senhor é? — as meninas me perguntaram polidamente, ainda sorrindo.
— Estou morando no quarto de cima da casa de Aling Nena.
— Por que você quer morar lá?
Sorri e respondi:
— Há alguns anos atrás li algo que Jesus disse: “Bem-aventurados são os pobres”. Eu queria descobrir por que os pobres são abençoados.” (p.14-15)

Viv Grigg é diretor da Fundação Urban Leadership, que desenvolve líderes para trabalharem em comunidades urbanas pobres. Sua esposa, Ieda, é brasileira e foi uma das primeiras missionárias brasileiras na Índia. (www.urbanleaders.org)

Temos em nosso acervo outras obras que tratam dessa questão, a responsabilidade social da igreja. Confira:

- A revolução no voluntariado – Por que pessoas fazem do servir ao próximo sua razão de viver. Bill Hybels. Mundo Cirstão, 2005.

- Ação Social – Daí-lhes vós de comer – caderno de estudos. -Juerp, 1998.

- Cristo e a transformação social do Brasil. Carlos Pinheiro Queirós. Missão Ed., 1991.

- Esquecidos na Terra, lembrados no Céu – desafios sociais à fé cristã. Samuel Costa da Silva. MW Editora, 2001.

- Missão da Igreja e Responsabilidade Social – Teses do Congresso Batista de Ação Social, Juerp, 1988.


- Veja sua cidade com outros olhos. Ariovaldo Ramos. Sepal, 1995



- o -

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Lamento


"Toda a humanidade é um livro e tem um autor. Quando um homem morre, não é arrancado do livro um capítulo, mas cada capítulo é traduzido para uma língua melhor; de uma forma melhor. Deus emprega vários tradutores; algumas partes são traduzidas pela idade, outras pelas doenças, algumas pela guerra, outras pela justiça. Mas a mão de Deus está em cada tradução, segurando a nossas páginas novamente esparsas para aquela biblioteca onde cada livro permanece aberto um para o outro. Da mesma forma que o sino toca para o sermão não chama somente o pregador, mas toda a congregação, assim este sino toca por todos nós...


Nenhum homem é uma ilha, inteira em si mesma; cada homem é um fragmento de um continente, uma parte do todo. Se um torrão pode ser levado pelo mar, a Europa é o de menos, tanto como se fosse um promontório, como se fosse a terra dos amigos ou a sua própria. A morte de qualquer homem me diminui, porque estou imerso na humanidade; portanto, nunca me perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti." (John Donne, citado de Lamento, p. 46)


Lamento é um livro escrito pelo filósofo cristão Nicholas Wolterstorff a respeito da morte de seu filho Eric. À semelhança de Anatomia de uma dor de C. S. Lewis, o livro trata dos temas morte e sofrimento de um ponto de vista bem pessoal e franco. Wolterstorff expressa os seus sentimentos e angústias com uma sinceridade tocante ao tempo em que reflete sobre como a morte de seu filho amado altera sua relação com Deus e sua forma de encarar o mundo.


Apesar de filósofo, Wolterstorff não recorre a racionalizações teóricas pela afastar a dor. Ele reconhece, em toda a sua crueza, a morte como um acontecimento trágico que mutilou sua família, que agora nunca mais será completa. O escritor descreve em cores vivas o impacto da ausência de seu filho, ausência que se faz mais presente até do que a própria presença; e a dolorosa inversão das expectativas em relação à morte: um pai não deveria enterrar um filho, porque os filhos são o futuro dos pais, reflete Wolterstorff.


A morte parece ser uma coisa muito natural. De fato, desde que nascemos, somos levados a acreditar que a única coisa certa para o futuro é a morte. No entanto, não nos acostumamos com ela. A morte sempre nos parece anti-natural. A respeito disso Wolterstorff nos que nós cristãos podemos entender isso muito bem porque sabemos que não fomos feitos para a morte. Deus mesmo sofre com a morte. O evangelho nos mostra que até Jesus chorou diante da morte de um amigo querido! De fato, a missão do messias era exatamente a vitória sobre a morte, o que paradoxalmente envolveu o próprio morrer. Por isso, não podemos menosprezar a morte. Reduzir sua importância não oferece nenhum consolo. Consola, porém saber que:


"Nisso estamos juntos, Deus e nós; juntos na história do nosso mundo. A história do nosso mundo é a história do nosso sofrimento comum. Cada ato do mal extrai uma lágrima de Deus, cada mergulho na angústia extrai um soluço de Deus. Mas a história do nosso mundo é também a história da nossa libertação comum. O trabalho de Deus para livrar-se de seu sofrimento é a sua obra para livrar o mundo de sua agonia; nossa luta pela paz e a justiça é a nossa lutar para aliviar a tristeza de Deus." (p. 91)


"Ao compartilhar a profundidade de sua tristeza, Nicholas Wolterstorff ajuda aqueles que estão de luto ou que buscam conforto a abrirem as comportas da alma. Lamento é, de fato, 'bálsamo para as nossas feridas'" (Henri J. M. Nouwen)


Citações extraídas de: Wolterstorff, Nicholas. Lamento. Tradução de Joel Tibúrcio de Souza, Viçosa, MG: Ultimato, 2007.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Oração das Obras do Amor


Sören Kierkegaard foi um filósofo e teólogo dinamarquês do século XIX que estudou profundamente a relação entre razão e fé. Suas obras são de uma relevância inquestionável. É considerado por muitos o pai da filosofia da existência e, de fato, as idéias desse autor se fazem presentes de forma marcante em ícones dessa corrente como Heidegger e Jaspers. Em teologia, a influência de Kierkegaard foi determinante na crítica da teologia liberal de Schleiermacher e de Harnack, empreendida pelo movimento Neo-ortodoxo. Karl Barth admite que sua principal influência num primeiro momento, especialmente em sua conhecida obra Carta aos Romanos, foi exatamente a filosofia de Kierkegaard.


Um dos diferenciais do estilo kierkegaardiano de fazer filosofia é a utilização contínua de figuras poéticas para ilustrar e reforçar seus argumentos. Algumas de suas obras filosóficas são verdadeiras obras-primas literárias como O diário de um sedutor e Temor e tremor. O texto transcrito abaixo é a oração introdutória de Kierkegaard a um conjunto de pregações a respeito do amor chamado As obras do amor. "Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Nós amamos porque ele nos amou primeiro." (I João 4: 9-10, 19)


Oração das Obras do Amor


Como se poderia falar corretamente do amor, se Tu fosses

esquecido,

Ó Deus do amor,

de quem provém todo o amor no céu e na terra;

Tu, que nada poupaste, mas tudo entregaste em amor;

Tu que és amor, de modo que o que ama só é aquilo que é

por permanecer em Ti!

Como se poderia falar corretamente do amor, se Tu fosses

esquecido,

Tu revelaste o que é o amor;

Tu, nosso salvador e reconciliador,

que deste a Ti mesmo para libertar a todos!

Como se poderia falar corretamente do amor, se Tu fosses

esquecido,

Espírito de Amor,

que não reclamas nada do que é próprio Teu,

mas recordas aquele sacrifício do Amor,

recordas ao crente que deve amar como ele é amado,

e amar ao próximo como a si mesmo!

Ó, Amor Eterno,

Tu que estás presente em toda a parte

e nunca deixas sem testemunho quando te invocam,

não deixa sem testemunho aquilo que aqui deve ser dito sobre

o amor,

ou sobre as obras do amor.

Pois decerto há poucas obras que a linguagem humana,

específica e mesquinhamente, denomina obras de amor;

mas no céu é diferente,

aí nenhuma obra pode agradar se não for uma obra de amor:

sincera na abnegação,

uma necessidade do amor,

e justamente por isso sem a pretensão de ser meritória!

sábado, 17 de outubro de 2009

Histórias para crianças

“Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer
não se desviará dele.” (Pv 22.6)

Mais do que dar um brinquedo a uma criança, neste mês em que celebramos – dia 12 - o dia da criança*, lembremos que, como pais ou responsáveis pela educação de uma criança, é nossa responsabilidade orientá-la e ensiná-la no caminho do Senhor.

Encontramos na literatura cristã infantil histórias que podem ser utilizadas como apoio para um momento de leitura da Bíblia, para reforçar um estudo bíblico realizado e também na evangelização de crianças.

É importante promovermos o contato da criança com o livro, lendo para ela ou estimulando a leitura, pois assim poderá desenvolver esse gosto desde cedo. De acordo com Paulo Freire (1), a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra, e a leitura da palavra implica a continuidade da leitura do mundo (1989, p.13).

A nossa biblioteca tem um acervo infanto-juvenil que inclui diferentes edições da Bíblia para crianças e diversos livros de histórias bíblicas e outras que falam do amor de Deus, de temas bíblicos e de valores cristãos.

Destacamos algumas obras, mas há muitas outras em nosso acervo:

O diário de José. Você está convidado a ler o diário de um menino muito especial, dono de uma capa colorida e da inveja de seus irmãos. Conheça a história de José, um sonhador que escravo e prisioneiro passou a administrador de Faraó, perdoando seus irmãos que o haviam vendido aos mercadores.

O diário de Josué no deserto. Descubra como Deus resgatou os Israelitas do cruel Faraó do Egito. Enquanto eles escapam de um país Deus os dirige a outro. O começo de uma emocionante aventura...

Ester, a rainha corajosa. C. Mackenzie. Ed. Fiel.
A Série Mackenzie é uma coletânea de 12 histórias bíblicas para crianças, transcritas das Escrituras e recontadas em linguagem simples.

Isto não é conto de fadas. John Piper. Ed. Fiel. Os contos-de-fadas são estórias que visam nos divertir. Esta, porém, conta a melhor e mais fantasticas de todas as histórias: A História de Jesus, o Filho de Deus, e trata-se de uma história verídica.Este livro contrasta a história do Senhor Jesus com os contos-de-fada.

Marcinelo e o presente maravilhoso. Max Lucado. Ed. Hagnos.
Com a aproximação do Festival do dia do Criador, Marcinelo e toda Xulingolândia querem oferecer algo espetacular para Eli, o carpinteiro.O melhor bolo, o melhor buquê de flores e a melhor música. Contudo, Marcinelo acidentalmente destrói tudo. E todos descobrem que o amor é o presente maravilhoso.

Postais de Paulo. Paulo faz a sua narração por meio de cartões postais que envia aos amigos.

Provérbios em Fábulas 1. Paulo Debs. Ed.Vida. Com histórias criadas a partir de provérbios bíblicos e adaptadas ao imaginário infantil, Paulo Debs ensina, de forma divertida, preciosas lições como: obediência, honestidade, gratidão e outras tantas.

Você é Especial. Max Lucado. Ed.Hagnos. Esta história ilustrada com perfeição, ajuda os pais a anunciar às crianças a verdade sobre o amor de Deus. Apesar de o mundo nos impor necessidades de qualificações especiais, Deus nos diz: Você é Especial, e pronto.

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*em alguns países o dia da criança é celebrado no dia 20/11, Dia mundial da criança (ONU).

(1) A Importância do ato de ler: em três artigos que se completam. Paulo Freire. Ed. Cortez, 1989. 23ª. edição.
O livro está disponível para leitura, via web, no seguinte endereço:
http://portal.mda.gov.br/portal/saf/arquivos/view/ater/livros/A_import%C3%A2ncia_do_Ato_de_Ler.pdf
Obra do acervo da biblioteca central da UFPB.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Anatomia de uma dor


C. S. Lewis escreveu várias obras de caráter apologético. Sendo um cristão pertencente à elite intelectual e acadêmica de seu país, Lewis várias vezes foi convidado a responder às objeções levantadas pelos seus colegas ateus. Um dos tópicos enfrentados com maior brilhantismo pelo grande escritor irlandês foi a questão do sofrimento, que pode ser traduzida na pergunta: "Se Deus é bom e todo-poderoso, por que permite que suas criaturas sofram?". A resposta de Lewis a essa pergunta resultou no livro O problema do sofrimento, que é até hoje um dos livros mais lidos do conjunto da vasta obra lewisiana. Nessa dissertação, Lewis afirma a famosa tese do sofrimento como o "megafone divino" pelo qual Deus fala com a criatura e aponta para seu estado decaído bem como para a necessidade de arrependimento.


Todavia, Lewis, durante sua idade adulta, teve uma vida bastante confortável como professor universitário reconhecido entre seus pares e alunos, passando distante de qualquer sofrimento intenso. São da sua infância e adolescência suas memórias mais vívidas de sofrimento (para maiores informações sobre essa época da vida do autor, conferir seu escrito autobiográfico: Surpreendido pela Alegria). Foi somente no final de sua vida que Lewis enfrentou a dor mais marcante de sua história: a morte de sua esposa Helen Joy Davidman.


O autor das Crônicas de Narnia fora celibatário até os 59 anos de idade, quando casou-se com Helen. Durante três curtos anos, o solitário escritor desfrutou da felicidade conjugal ao lado de sua amada esposa. Quando a morte enfim a tomou de seus braços, Jack, como era conhecido pelos seus amigos mais íntimos, considerou toda a situação como uma espécie de ironia do destino: que ele demorasse tanto para desfrutar das alegrias (curiosamente o nome do meio de Helen era "Joy", que significa alegria) do casamento e que estas durassem tão pouco. Em seu luto, Lewis anotou seus sentimentos e reflexões a respeito da experiência traumática da morte de uma pessoa amada, que publicou sob o título A grief observed (traduzido para o português como A anatomia de uma dor).


Se O problema do sofrimento fala da dor em terceira pessoa, de forma distanciada, A anatomia de um dor fala dela em primeira pessoa. Nesta obra, Lewis não trata da dor em geral, como experiência comum a todos, mas lida com o seu próprio pesar e talvez, por isso mesmo, essa seja uma obra ainda mais poderosa do que a sua primeira dissertação sobre o tema.


Sob muitos aspectos, o relato de Lewis a respeito do seu próprio sofrimento se assemelha ao relato de Jó. Assim como Jó, Lewis não consegue entender completamente o sentido do sofrimento em sua vida, o que o faz questionar profundamente a aparente omissão de Deus nesse momento tão difícil. Esse sentimento de revolta contra tal situação pode ser ilustrada pela forte passagem transcrita abaixo:


"Mas, volte-se para Ele, quando estiver em grande necessidade, quando toda outra forma de amparo for inútil, e o que você encontrará? Uma porta fechada na sua cara, ao som do ferrolho sendo passado duas vezes pelo lado de dentro. Depois disso, silêncio." (p. 31)


Porém, assim como Jó, Lewis não acredita que o sofrimento seja, realmente, um fato desabonador da existência de Deus, mas um desafio ao nosso entendimento do caráter e da conduta dEle.


Após uma reflexão amarga a respeito da dor, a conclusão de Lewis é a de que:


"Deus não esteve fazendo uma experiência com minha fé nem com meu amor a fim de avaliar-lhes o caráter. Ele já sabia isso. Era eu que não sabia. Nesse julgamento, ele nos faz ocupar o banco dos réus, o banco das testemunhas e o assento do juiz de uma só vez. Sempre soube que meu templo era um castelo de cartas. A única forma de me fazer compreender o fato foi colocá-lo abaixo."


"Toda a realidade é iconoclasta. A pessoa amada na Terra, até mesmo nesta vida, não cessa de triunfar sobre a simples idéia que você faz dela. E você quer que seja assim; você a quer com todas as resistências, todas as faltas, toda sua imprevisibilidade, isto é, em sua realidade franca e independente.


(...)


Não a minha idéia a respeito de Deus, mas o próprio Deus. Não a minha idéia de H., mas ela mesma. E também não a idéia que eu tenho de meu vizinho, mas meu vizinho.


(...)


Uma vez mais, eu pareço estar construindo com cartas. E se estiver, Ele uma vez mais haverá de derrubar a estrutura ao chão. Derrubá-la-á tantas vezes quantas forem necessárias." (p. 71 e 83-84)


Assim como em Jó, o resultado final da dor no relato de Lewis foi destruir uma imagem enganosa, um ídolo, de Deus para refazê-la de forma correta. Nas palavras do livro de Jó: "Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem" (Jó 42:5).


A complexidade da experiência do sofrimento no mundo tem conseqüências relevantíssimas para o nosso saber teológico. Aquela que é mais evidenciada tanto por Lewis, quanto pelo livro de Jó é a necessidade de reconhecer a limitação do nosso entendimento a respeito dos propósitos e do caráter de Deus, o que se deve traduzir em uma constante humildade em relação à nossa capacidade de conhecer e em uma submissão a auto-revelação divina. Nesse sentido, podemos comparar as passagens abaixo de A anatomia de um dor e do livro de Jó:


"Quando apresento essas questões a Deus não deixo de ter uma resposta; mas, em vez disso, uma variável do tipo "sem resposta". Não se trata da porta fechada. É mais como uma contemplação silente, com certeza não impiedosa. Como se Ele meneasse a cabeça não em recusa, mas deixasse de lado a pergunta. Algo como 'Fique em paz, meu filho; você não entende.'. É mais como um olhar fixo e silencioso, com certeza não impiedoso.


Pode um mortal fazer perguntas que Deus considera não passíveis de resposta? Absolutamente, sim. Todas as perguntas sem sentido não são passíveis de resposta. Quantas horas há num quilômetro? O amarelo é quadrado ou redondo? Provavelmente, metade das perguntas que fazemos - metade de nossos grandes problemas teológicos e metafísicos - pertençam a essa categoria." (p. 85)

"Depois disto, o SENHOR, do meio de um redemoinho, respondeu a Jó: Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem conhecimento? Cinge, pois, os lombos como homem, pois eu te perguntarei, e tu me farás saber. Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? Dize-mo, se tens entendimento. Quem lhe pôs as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre que estão fundadas as suas bases ou quem lhe assentou a pedra angular, quando as estrelas da alva, juntas, alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus? Ou quem encerrou o mar com portas, quando irrompeu da madre; quando eu lhe pus as nuvens por vestidura e a escuridão por fraldas? Quando eu lhe tracei limites, e lhe pus ferrolhos e portas, e disse: até aqui virás e não mais adiante, e aqui se quebrará o orgulho das tuas ondas? Acaso, desde que começaram os teus dias, deste ordem à madrugada ou fizeste a alva saber o seu lugar, para que se apegasse às orlas da terra, e desta fossem os perversos sacudidos? A terra se modela como o barro debaixo do selo, e tudo se apresenta como vestidos; dos perversos se desvia a sua luz, e o braço levantado para ferir se quebranta. Acaso, entraste nos mananciais do mar ou percorreste o mais profundo do abismo? Porventura, te foram reveladas as portas da morte ou viste essas portas da região tenebrosa? Tens idéia nítida da largura da terra? Dize-mo, se o sabes. Onde está o caminho para a morada da luz? E, quanto às trevas, onde é o seu lugar, para que as conduzas aos seus limites e discirnas as veredas para a sua casa? Tu o sabes, porque nesse tempo eras nascido e porque é grande o número dos teus dias! Acaso, entraste nos depósitos da neve e viste os tesouros da saraiva, que eu retenho até ao tempo da angústia, até ao dia da peleja e da guerra? Onde está o caminho para onde se difunde a luz e se espalha o vento oriental sobre a terra? Quem abriu regos para o aguaceiro ou caminho para os relâmpagos dos trovões; para que se faça chover sobre a terra, onde não há ninguém, e no ermo, em que não há gente; para dessedentar a terra deserta e assolada e para fazer crescer os renovos da erva? Acaso, a chuva tem pai? Ou quem gera as gotas do orvalho? De que ventre procede o gelo? E quem dá à luz a geada do céu? As águas ficam duras como a pedra, e a superfície das profundezas se torna compacta. (..) Disse mais o SENHOR a Jó: Acaso, quem usa de censuras contenderá com o Todo-Poderoso? Quem assim argúi a Deus que responda. Então, Jó respondeu ao SENHOR e disse: Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca. Uma vez falei e não replicarei, aliás, duas vezes, porém não prosseguirei." (Jó 38 e 41:1-5)


Vale a pena ler A anatomia de um dor, trata-se de um livro curto e absolutamente rico em termos de reflexão pessoal e de espiritualidade.


Citações extraídas de: Lewis, C. S. A anatomia de um dor. Tradução de Alípio Franca, São Paulo: Vida, 2007

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A Bíblia: em um dia de tristeza


Gonçalves de Magalhães (1811-1882) é conhecido pelo fato de ter introduzido o Romantismo literário no Brasil. A maioria dos livros didáticos de literatura aponta sua obra Suspiros poéticos e saudades (1836) como o marco de inicial do movimento no Brasil. Embora não seja considerado pelos críticos como um poeta da estatura de Gonçalves Dias ou de Castro Alves, é possível encontrar em sua obra lampejos líricos de qualidade inquestionável. Um desses lampejos é o poema reproduzido abaixo que fala da bíblia como o consolo do poeta na tribulação e na tristeza.


A Bíblia

Em um dia de tristeza

Por Domingos José Gonçalves de Magalhães


(...)


Livro sagrado,

Vem consolar-me,

Vem saciar-me

Na minha dor.

Meu peito ansiado

De ti carece,

Sem ti falece

O meu vigor.

A ti recorro

Triste e sedento,

Que este tormento

Me faz gemer.

Dá-me socorro

No mal extremo,

Vem, senão temo

À dor ceder.


Cada palavra,

Que me vás dando,

É qual um brando,

Suave mel.

Já em mim lavra

A paz do empíreo;

Do meu martírio

Se adoça o fel.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Seminário sobre Oração com o Pr. Luiz Sayão


A propósito dos recentes posts sobre oração, está disponível para download a excelente palestra proferida pelo Pr. Luiz Sayão no Seminário sobre o tema Oração, realizado em 25 julho de 2009, por ocasião das comemorações de aniversário da Igreja Memorial Batista. Vale a pena ouvir! Para baixar o arquivo clique aqui.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

"Orai sem cessar"


O conjunto de pequenos textos que passamos a publicar a partir do post Deus nos ouve surgiu das atividades de um pequeno grupo de estudos bíblicos criado entre os alunos de Direito da UnB pela a iniciativa de um irmão em Cristo, meu querido amigo da Universidade de Brasília, Pedro Felizola (que, por sinal, mantém um excelente blog chamado Papo Cristão). O grupo foi, durante dois anos, uma benção na vida de todos que dele participaram. Um por vez, cada um dos membros do grupo se voluntariava a escrever um pequeno texto, curto e despretensioso (mais propriamente um conjunto de referências bíblicas com pequenas explicações esquemáticas), para servir de orientação para os estudos realizados coletivamente durante as reuniões, conforme um tema pré-estabelecido. Em meados de 2007, fiquei responsável por realizar uma série de estudos sobre oração, esses textos ora publicados foram produzidos nessa ocasião. Escrevo essa, já demasiado longa, introdução para recomendar a todos a realização de estudos bíblicos em pequenos grupos, trata-se de uma experiência extremamente construtiva em termos de crescimento espiritual e uma oportunidade de evangelização. Por fim, que cada de nós se comprometa ao que foi desafiado pelo apóstolo Paulo:


“Orai sem cessar”

II Tessalonicenses 5:17


Antes da queda, Adão e Eva andavam constantemente na presença do Senhor, conversando diretamente com Ele. Como fruto do nosso pecado, porém, perdemos esse contato direto com Nosso Senhor. Jesus veio para refazer essa comunicação, eis um dos motivos por que oramos em seu nome. O Novo Testamento nos convoca a orar sem cessar, nos convoca a um estado de comunicação completa, ininterrupta e graciosa com o Criador.

A oração pode ser, muitas vezes, motivo de perseguição. Daniel foi posto na cova dos leões por invocar a Deus. Devemos, porém, perseverar em oração como os primeiros cristãos, vigiando sempre atentos para a segunda vinda do Salvador.

Além disso, a Palavra nos aconselha a orar em diversas ocasiões por diversos motivos que sempre estão presentes e sempre precisam de nossa atenção e intercessão. Segue abaixo apenas um rol exemplificativo desses motivos:


  • ¬ O pastor deve orar pelas suas ovelhas (I Sm 12:23)
  • ¬ O povo de Deus deve orar pelas suas feridas (II Cr 7:14)
  • ¬ Devemos orar pela paz (Sl 122:6)
  • ¬ Devemos orar pelos nossos inimigos (Mt 5:44)
  • ¬ Devemos orar pelas crianças, pelo seu crescimento (Mt 19:13)
  • ¬ Devemos orar pelo nosso fortalecimento na fé (Mt 26:41)
  • ¬ Devemos orar pela ação missionária (Mt 9:36-38)
  • ¬ Devemos orar uns pelos outros (Tg 5:16)
  • ¬ Devemos orar pelas autoridades (ITm 2:1-2)
  • ¬ Devemos orar pelos enfermos (Tg 5:15)
  • ¬ Devemos orar por nossos irmãos que enfrentam tentação (Lc 22:32)
  • ¬ Devemos orar por aqueles sofrem perseguição (I Ts 3:1)
  • ¬ Devemos orar por sabedoria (I Rs 3:9)


“Perseverai na oração, vigiando com ações de graças. Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual também estou algemado”

I Colossenses 4:2-3