sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Clássicos Devocionais


Clássicos Devocionais, editado por Richard Foster e James Bryan Smith, é uma coletânea de textos devocionais extraídos de obras clássicas sobre espiritualidade e vida cristã. Os autores cujos textos compõem o livro são oriundos de diversas tradições cristãs e de diversos períodos da história da Igreja, desde Atanásio até Kathleen Norris, passando por Bernardo de Claraval, Francisco de Assis, Martinho Lutero, John Wesley e C. S. Lewis. Sobretudo, são autores cujas idéias e exemplos de vida resistiram ao tempo e são admiráveis e úteis até hoje.

Os textos estão organizados em uma parte preparatória seguida por seis partes: "Preparação para a vida espiritual", "A vida de oração", "A vida íntegra", "A vida no poder do Espírito", "A vida compassiva", "A vida centrada na Palavra" e "A vida sacramental". Cada uma delas enfatizando uma das dimensões da vida espiritual cristã que precisam ser desenvolvidas pelo crente.

Foster afirma que os cristãos de hoje não estão acostumados, como os antigos, à idéia de que é necessário se exercitar diariamente e disciplinadamente a fim de desenvolver experiências e relacionamento com Deus. Pelo contrário, verifica-se uma acomodação à simples afirmação da crença sem mais conseqüências. A iniciativa de Foster destina-se a enfatizar a necessidade do cultivo da disciplina espiritual para o fortalecimento da fé.

A fé, assim como a virtude, precisa ser exercitada para se aperfeiçoar. Isso não significa, porém, que exista uma técnica ou método para a espiritualidade. A própria diversidade nas experiências dos autores aponta para esse fato. Contudo, é possível extrair de cada um deles, lições valiosas a respeito da atitude de quem deseja conhecer melhor a Deus e fazer Sua vontade.

O livro traz também, após os textos, citações das Escrituras relacionadas, perguntas para a meditação e sugestões de exercícios que podem ser feitos em pequenos grupos ou individualmente, bem como sugestões de leitura para aprofundamento. A obra é interessante para a leitura e reflexão diárias e para o uso em pequenos grupos de discipulado.

"O custo do descomprometimento é a paz permanente, uma vida repleta de amor, fé que vê tudo na perspectiva do domínio supremo de Deus para sempre, esperança que sobrevive aos momentos mais aflitivos, força para fazer o que é certo e resistir ao poder do mal. Em resumo custa exatamente aquela abundância de vida que Jesus prometeu (João 10.10). O jugo de Cristo na forma de cruz é, afinal, um instrumento de libertação e poder para quem divide o jugo com Cristo e aprende a humildade e a singeleza de coração, que trazem descanso à alma. A perspectiva correta é ver o seguir a Cristo não apenas como necessidade, mas como cumprimento das possibilidades humanas mais nobres e como vida de alto nível." (trecho de "O Custo do Descompromentimento" de Dallas Willard, citado de Foster, Richard; Smith. James Bryan (org). Clássicos Devocionais. São Paulo: Vida, 2009, p. 35-36)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Tu nos amaste primeiro


"Pai celeste! Tu, que nos amaste primeiro, ajuda-nos a nunca esquecer que és amor, para que essa certeza triunfe em nosso coração contra a sedução do mundo, contra a inquietude da alma, contra a ansiedade do futuro, contra o medo do passado, contra a angústia do presente. Todavia, permite também que essa convicção discipline nossa alma, para que nosso coração permaneça fiel e sincero no amor para com todos os que nos ordenaste amar como a nós mesmos.

Tu nos amaste primeiro, ó Deus! Falamos disso em termos de história, como se tivesses apenas nos amado uma única vez, em vez de incessantemente nos amar primeiro muitas vezes, todos os dias e por toda a nossa vida. Quando acordamos de manhã e buscamos a ti - tu és o primeiro -, tu nos amaste primeiro. Se me levanto de madrugada e no mesmo instante volto minha alma para ti em oração, tu estás ali antes de mim; tu me amaste primeiro. Quando me desvio das distrações do dia e me volto para ti, tu és o primeiro, e assim sempre. Contudo, sempre expressamos ingratidão, como se nos tivesses amado primeiro uma única vez."

Kierkegaard, Sören.
Tu nos amaste primeiro. In.: Foster, Richard; Smith, James Bryan (org). Clássicos Devocionais. São Paulo: Vida, 2009, p. 462-463.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

João Calvino, uma biografia teológica


De origem humilde, João Calvino nasceu em Noyon, França, em 10 de Julho de 1509. Ele era filho de um tabelião, secretário do bispo de Noyon. Ingressou no Colégio dos Capeto e depois foi admitido entre os filhos do Senhor de Monmor, compartilhando com eles sua educação.

Em agosto de 1523, iniciou seus estudos na Universidade de Paris,onde aprendeu latim, filosofia e dialética, chegando a distinguir-se como humanista. Posteriormente estudou Direito em Orleans, o que influenciou fortemente o estilo sóbrio e analítico de seus escritos teológicos. Sua conversão foi pouco documentada e ocorreu mais ou menos aos 23 anos, a única fonte sobre ela é uma passagem em seu Comentário ao livro de Salmos.

Como escritor, Calvino pode incluir-se entre os grandes do século XVI. Escreveu prolificamente, entre suas numerosas obras estão As Intitutas da Religião Cristã, um dos maiores tratados teológicos escritos até hoje e a exposição mais sistemática das doutrinas da Reforma, e seus comentários às escrituras. A sua linguagem, um tanto austera, mas exata, leva a clareza à teologia e é portador do movimento que procede de uma lógica poderosa.

Calvino criou um sistema teológico dentro da tradição protestante que recebeu o nome de "calvinismo". Os sistemas de teologia desenvolvidos a partir do seu ideal de teologia receberam o título de "fé reformada". E, o termo "Presbiterianismo", passou a ser a palavra usada para exprimir a forma de organização eclesiástica concebida por Calvino, que fez de Genebra o centro de execução de suas idéias. Sendo considerado como o líder da segunda geração de Reformadores.

Calvino recebeu formação humanística, motivo pelo qual se tornou organizador por excelência do protestantismo. Enquanto esteve em Genebra, enfrentou problemas de saúde. Gostava de estudar solitariamente. Viveu na Suíça republicana e muito se interessou pelo desenvolvimento de uma igreja governada com representatividade.

Calvino, sempre se preocupava com a formulação de um sistema formal de teologia. Aceitou a autoridade da Bíblia e sua ênfase maior se baseava na soberania absoluta de Deus. A valorização da idéia da soberania absoluta de Deus levou Calvino a adotar e desenvolver a doutrina da predestinação absoluta, que encontra suas raízes no pensamento de Agostinho de Hipona. Essa doutrina, com o tempo, passou a ser a mais enfatizada no corpo doutrinário da teologia calvinista, seja pela adesão irrestrita da parte de vários teólogos posteriores, seja pela rejeição categórica de outros (dentre os quais, nós, os Batistas Brasileiros). Tanto é que calvinista passou a ser sinônimo de predestinacionista, o que é um reducionismo inaceitável, levando em consideração a vasta contribuição do teólogo francês.

Quanto à Santa Ceia, Calvino adotou uma posição intermediária entre Lutero e Zuínglio. Embora Cristo esteja nos céus à destra do Pai, a ceia não é mero símbolo, mas um meio de “verdadeira participação” em Cristo. Calvino rejeitava tudo que não pudesse ser justificado por meio de citações das Escrituras.

João Calvino morreu no dia 27 de maio de 1564, já com a saúde bastante debilitada, após um acesso de hemoptise.

Vários dos livros desse brilhante teólogo estão disponíveis em nossa biblioteca, incluindo As Institutas da Religião Cristã e vários comentários bíblicos.

Para mais informações sobre Calvino, confira o site criado em razão das comemorações de 500 anos de seus nascimento:
http://www.calvin500.com/

Por Priscila Rocha

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Canto


O Canto de Fagundes Varela fala de Cristo, que é merecedor de toda a glória e perante quem a natureza inteira se curva. Por isso, o poeta louva Seu nome e espera pela Sua ação redentora e purificadora, única capaz de transformar o mundo decadente.

Canto
Por Fagundes Varela


I
Jesus! Filho de Deus! Quero adorar-te
No céu, na terra, no universo inteiro!
Vejo teu nome escrito em toda a parte
Onde vai meu olhar de forasteiro!
Milagres de saber, prodígios de arte,
Senhor e servo, artista e pegureiro,
Todos repetem neste mundo vário,
O poema sublime do Calvário!

II
Os astros de mais luz, orbes imensos,
Hipérboles lançadas sobre os ares,
Brilhantes a rolar em mares densos,
Escarpados de angélicos colares;
Gênios supernos, querubins infensos,
Tudo, tudo, Senhor, em teus altares
São míseras ofertas que a desgraça
Logo transforma em pó, cinza e fumaça!

IV
Ó Cristo! Se de um sangue sacrossanto
Banhaste a gleba vil onde pisaste,
Se jogaram soldados em teu manto
Quando da cruz as dores suportaste,
Tudo mudou-se! Do divino pranto
Constelações sem número formaste!
Da túnica manchada por imundos
Fizeste o pavilhão que abriga os mundos.

V
Nos belos tempos da saudosa infância
Quadra de louros sonhos, de esperanças
Ouvia-te das balsas na fragrância:
- “Vinde, vinde até mim, pobres crianças!”
Tu me deste a miséria e a abundância,
Quando chorei, me consolaste, ó Deus!
Ao clarão imortal dos olhos teus!

VI
Rujam embora as vagas do oceano
Mandando aos alcantis navio incerto,
Corra o gládio de bárbaro tirano
Transformando as cidades num deserto!
Passe da peste e morte o sopro insano,
Medonho, horrendo em boqueirão aberto!
Flagele a humanidade a sede, a fome...
O’ Cristo! Creio em ti, creio em teu nome!

VII
Jesus! Hoje porém se os livros abro
E o fruto colho da fatal ciência,
Tudo vejo em terrível descalabro!
Nem crenças, nem razão, nem consciência
De velha planta tronco feio e glabro
Volve este pobre mundo em decadência!
Só tu podes verter aos homens luz,
Árvore santa onde sofreu Jesus!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Feridos em nome de Deus


“Quando a fé se deixa manipular, pessoas viram presas fáceis de toda sorte de abuso”


“Feridos em nome de Deus” da jornalista Marília de Camargo César aborda o “abuso espiritual”, definido como “o encontro de uma pessoa forte com uma fraca, em que a forte usa o nome de Deus para influenciar a fraca e levá-la a tomar decisões que acabam por diminuí-las física, material ou emocionalmente”. O livro mostra a manipulação da fé feita por pastores e líderes dentro das igrejas evangélicas. A autora relata histórias reais de pessoas que foram machucadas emocionalmente.


Ao lidar com feridas não cicatrizadas, Marília revela a urgência de um novo tipo de liderança, não autocrática, e de um novo membro, mais confiante em Deus e menos dependente do pastor local, a fim de que o espaço da igreja seja saudável, criativo e curador.


A obra traz, ainda, a análise do pastor Ed René Kivitz, da Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo. A atmosfera mística dos cultos, com pregações contundentes e orações em línguas estranhas estimula essa percepção, analisa Kivitz.


Para o pastor batista, o pentecostalismo e depois o neopentecostalismo “abrasileiraram” o protestantismo histórico. O pentecostalismo recuperou o profetismo, que animou movimentos religiosos no Brasil, e o neopentecostalismo se apropriou de forças mágicas das religiões afro-brasileiras.


Marília justifica a escolha de seu tema: "Eu parti de uma experiência pessoal, de uma igreja que freqüentei durante dez anos. Eu não fui ferida por nenhum pastor, e esse livro não é nenhuma tentativa de um ato heróico, de denúncia. É um alerta, porque eu vi o estado em que ficaram meus amigos que conviviam com certa liderança. Isso me incomodou muito e eu queria entender o que havia dado errado. Não quero que haja generalizações, porque há bons pastores e boas igrejas. Mas as pessoas que se envolvem em experiências de abusos religiosos ficam marcadas profundamente".


Feridos em nome de Deus é leitura obrigatória para quem anseia por um cristianismo saudável e libertador. Uma denúncia do falso evangelho pregado por falsos cristãos; um sopro dos bons ventos da graça de Deus, que definitivamente precisa triunfar entre nós.


Por Priscila Rocha

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Balanço 2008-2009

"São muitas, Senhor, Deus meu, as maravilhas que tens operado e também os teus desígnios para conosco; ninguém há que se possa igualar contigo. Eu quisera anunciá-los e deles falar, mas são mais do que se pode contar" (Sl 40.5)


O biênio 2008-2009 foi repleto de desafios e vitórias para a Biblioteca. Em 2008, deixamos de ter o apoio regular de dois dos maiores colaboradores e líderes da Biblioteca em sua história, do irmão Philipe Cícero Ferreira, que nos deixou para a Glória - e por cuja preciosa vida agradecemos abundantemente -, e da irmã Eliane Consigliero.


Porém, o Senhor proveu a superação dessas dificuldades e possibilitou a obtenção de várias conquistas. Tanto é que podemos agora tentar "contar as bençãos" recebidas conforme nos recomenda o tradicional hino -muito embora, segundo observa o salmista, elas sejam"mais do que se possa contar" - e ainda procurar modos de aperfeiçoar o serviço neste e nos próximos anos. Vamos a elas:


1) A criação do blog foi uma das grandes vitórias do biênio 2008-2009. Por meio dele, foi possível viabilizar a comunicação com o usuário da biblioteca de forma mais eficiente, possibilitando a interatividade, a divulgação de informações e o fomento da leitura, sem custos e ecologicamente viável, isto é, sem a necessidade de impressão de encartes ao boletim. O blog foi criado para testes em agosto de 2008 e passou a funcionar como instrumento oficial da biblioteca em agosto de 2009. Até dia 31 de dezembro de 2009, haviam sido publicados 150 posts, recebidas 2.972 visitas, com uma média de 16 visitas por dia desde agosto de 2009.


2) O aumento no número de usuários ativos. Até 31/12/2007, contávamos com 424 usuários ativos cadastrados. Esse número aumentou para 504 em 2008 e para 533 em 2009, o que representa aumento de 25,7%, conforme gráfico abaixo (clique na figura para ampliá-la):



3) Maior do que o aumento no número de usuários, foi o aumento no número de empréstimos. Até 31/12/2007, o número total de empréstimos registrados era de 4.864, com 2.520 empréstimos em 2008 e 1.694 em 2009, esse número subiu para 9.078, o que representa aumento 86%. Ou seja, em dois anos foi realizado quase o total de empréstimos feitos até então. Confira o gráfico abaixo (clique na figura para ampliá-la):



4) O acervo da biblioteca cresceu numérica e qualitativamente nesses dois anos. Hoje temos 6.020 obras em nossa base de dados. Em 2007 tínhamos 4.862. Isso significa crescimento de 23,8%, confira o gráfico (clique na figura para ampliá-la):



O acervo de DVDs foi o que mais cresceu. Em 2007, tínhamos 166 obras nessa mídia, hoje temos 326: crescimento de 96,3% (clique na figura para ampliá-la).



Ademais prezamos por um crescimento mais equilibrado do acervo, procurando adquirir mais obras a respeito das áreas de conhecimento teológico que foram menos privilegiadas ao longo do tempo. Crescemos especialmente nas áreas de Missiologia, História da Igreja, Teologia Sistemática e Teologia Bíblica. O gráfico abaixo descreve, em porcentagens, a distribuição de obras por assunto em nossa biblioteca (clique na figura para ampliá-la):


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5) Pela primeira vez a biblioteca funcionou todos os dias de semana, graças à assistência, nos dias úteis, de estagiário. Realizada em 2008, essa experiência teve excelentes resultados e deverá ser repetida no corrente ano.


6) Por último e mais importante, vidas foram edificadas por Deus por intermédio de bons livros e bons filmes.


Por isso, louvamos, em primeiro lugar, a Deus, o Senhor da obra, cuja providência carinhosa que firmou os princípios do nosso labor e cuidou para que as vitórias fossem alcançadas. Agradecemos também a toda liderança da Igreja, especialmente ao Pastor Josué Mello Salgado e ao Diretor do Ministério de Informação, Rosber Neves Almeida; ao Rafael Nogueira Bello, que estagiou conosco; à Eloísa Barbosa e à Eliane Consigliero, pelo apoio especializado; ao Cassiano Carvalho Silveira, por colaborar com a memória técnica; a todos os leitores que movimentaram a biblioteca e compartilharam momentos agradáveis de estudo, conversa e reflexão conosco semanalmente; aos colaboradores do blog - Thiago Cortez, Elisângela de Freitas, Evandro Beserra e Matheus Gama - pelos textos enviados; aos muitos doadores de livros, DVDs e periódicos; e, finalmente, à equipe da biblioteca - Filomena Maria dos Reis Pinto, Larissa Castro, Priscila Rocha e Rodrigo Silveira -, que dedicou tempo e dons para o serviço do Senhor nesse frutífero ministério.


"Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra" (Rm 13.7).

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O papel das emoções na genuína experiência espiritual


A Genuína Experiência Espiritual, editada pela PES, é uma versão condensada e adaptada aos leitores modernos do Tratado sobre as Emoções Religiosas (1746) (A treatise concerning religious afections) de Jonathan Edwards (1703-1758), assim como o nosso campeão de leituras de 2009, Uma fé mais forte que as emoções, portanto pode-se dizer que a presente resenha também vale em relação a ele, muito embora a primeira obra tenha sido sua matéria-prima direta.

Seu autor, Jonathan Edwards, considerado por muitos até hoje o maior teólogo norte-americano, teve participação central no chamado Grande Despertamento do século XVIII. Edwards teve uma formação teológica e filosófica solida, sofrendo influência principal das obras de John Locke e de João Calvino. Seus escritos refletem suas influências ao prezar igualmente pela clareza lógica das idéias e pela busca constante pela fundamentação bíblica de suas posições.

O Tratado sobre a Emoções Religiosas surgiu da dupla necessidade de afirmar as emoções como demonstrações legítimas de uma religiosidade saudável e de desencorajar sua supervalorização, o emocionalismo religioso. Edwards afirma inicialmente que a religião verdadeira, o verdadeiro cristianismo, consiste principalmente em emoções santas. Sendo que, para o teólogo americano, emoções devem ser entendidas como "as ações mais vivas e intensas da inclinação da alma e da vontade" (p. 20). Para fundamentar sua posição inicial, o autor cita várias passagens bíblicas que exortam ou mesmo ordenam o crente a ter certas emoções como medo, esperança, amor, desejo, alegria, pesar, gratidão e misericórdia: I Cor. 13.13, Heb 6.19, I Tess. 5.8, Sal. 33.18, Prov. 8.13, Sal 97.10, Is 26.8, Sal. 63.1, Mat. 5.6, Fil. 4.4, Gal. 5.22, Mat.5.4, Col. 3.12, entre outras. O número de passagens é tão grande que Edwards recomenda que "se alguém quiser contestar isto, deve jogar fora a Bíblia e encontrar outro padrão pelo qual julgue a natureza da verdadeira religião" (p.25). Apesar da agressiva reação do teólogo contra os contestadores, é de se convir que Edwards constrói bem o seu argumento. Mais tarde cita também personagens bíblicas que se notabilizaram pela expressão de emoções santas como Davi, Paulo, João e o próprio Cristo, que os evangelhos afirmam ter chorado, se alegrado, se irado, se afligido, tudo isso de forma santa, pelos motivos certos e na proporção correta. Afirma também o teólogo outra evidência que aponta para a importância das emoções que são as constantes advertências bíblicas contra a dureza de coração presentes em Mar. 3.5, Sal. 95.7-10, Is. 63.17, II Cron. 36.13 e Ez. 11.19 e 36.26. A idéia de dureza de coração em todas essas passagens estaria ligada à frieza e à insensibilidade diante das emoções religiosas. Portanto, o correto entendimento do papel das emoções na espiritualidade deveria levar a não rejeitá-las como se fossem sinais de fraqueza, a cultivá-las de maneira santa e a não sentir vergonha delas.

Porém, o que diferencia as emoções que provêm de uma vida de conversão e arrependimento das emoções espúrias, pretensamente religiosas ou fingidas? Para responder a essa questão, Edwards começa dizendo o que não diferencia essas emoções:

1) Não é a intensidade o critério definidor, tanto cristãos como gentios são capazes de demonstrar sentimentos no mais alto grau.

2) Não são os efeitos das emoções no corpo o critério definidor. Apesar de serem aceitas por alguns como sinais últimos de uma espiritualidade profunda, reações como desmaios, arrepios, choros, calores em certas áreas do corpo, essas reações podem ser ou não provocadas pela ação do Espírito Santo. Não é incomum esse tipo de demonstração física em outras religiões ou mesmo em casos de histeria.

3) O fato das emoções produzirem um ímpeto para falar sobre Deus, ou louvá-lo, ou trazerem à lembrança versículos bíblicos, ou criarem um zelo pelos deveres externos do culto, ou gerarem uma sensação de segurança quanto à salvação não são índices de santidade emocional.(Agrupei esses pseudo-critérios, pois eles têm em comum a tentativa de justificar a emoção unicamente pelo seu efeito naquele que a experimenta). Todos esses efeitos podem ser produzidos por emoções "naturais", quando, por exemplo, elas trazem à memória versiculos ou hinos aprendidos na infância e tidos como boas lembranças ou quando o prazer de senti-las leva ao desejo de repetir a dose, criando a prática de cultuar com a finalidade de criar em si certas emoções.

4) O fato de serem produzidas pelo esforço também não é um bom critério para a distinção, pois a Bíblia descreve momentos em que os crentes são simplesmente tomados por emoções ao passo em que, em outros momentos, exorta seu cultivo. Edwards enfatiza que espíritos maus também podem ser responsáveis por inspirar certas emoções.

5) Finalmente, é impossível conhecer a natureza das emoções dos outros pela experiência ou através de relatos. Cada um deve sondar o seu próprio coração.

Existem, contudo, algumas características peculiares de emoções espirituais verdadeiras:

1) Elas são produzidas por experiências sobrenaturais e, portanto, são diferentes de qualquer sentimento que possa ser produzido naturalmente, por qualquer obra ou prática humana, ou, ainda, pela simples contemplação da natureza.

2) Seu propósito e sua causa são a beleza das coisas espirituais e não o nosso interesse pessoal. Nesse sentido, vale citar:

Alguns dizem que todo amor resulta do amor de si mesmo. É impossível, dizem, para qualquer pessoa amar a Deus sem que o amor por si mesmo esteja à raiz de tudo. De acordo com essas pessoas, quem quer que ame a Deus e deseje comunhão com Ele e deseje a sua glória, deseja essas coisas somente a propósito de sua felicidade. Assim um desejo pela própria felicidade (amor a si próprio) está na base do amor por Deus. Entretanto, aqueles que dizem isso deveriam perguntar-se porque uma pessoa colocaria sua felicidade em dependência da comunhão com Deus e Sua glória. Certamente isso é o efeito do amor a Deus. Uma pessoa tem de amar a Deus antes de perceber a comunhão com Ele e Sua glória como sua própria felicidade.

(...)

A causa mais profunda do verdadeiro amor a Deus é a suprema beleza da natureza divina. É a única coisa razoável a se acreditar. O que faz, principalmente, um homem ou qualquer criatura belo é sua excelência. Certamente a mesma coisa é verdadeira no que diz respeito a Deus. A natureza de Deus é infinitamente excelente; é beleza, fulgência e glória infinitas em si mesmas.(p.73) (*)

3) São baseadas na excelência moral das coisas divinas. Isso significa que as emoções cristãs nascem da contemplação da SANTIDADE de Deus. Santidade que torna mais claros os nossos próprios pecados e desperta a vontade de sermos santos. Por isso, transformam nossas naturezas e geram humildade e frutos de uma vida santa, ao invés de orgulho e vaidade. "Podemos testar nossos desejos pelo céu por essa regra. Queremos estar lá pela santa beleza de Deus que ali brilha? Ou nosso desejo pelo céu é baseado numa simples ansiedade pela felicidade egoísta?" (p. 79)

4)Surgem de e geram uma compreensão qualitativamente superior das realidades espirituais. Um teólogo espiritualmente emocionado é um melhor teólogo.

5) São simétricas e equilibradas.

A obra de Edwards apresenta uma posição sóbria, equilibrada, racional e biblicamente fundamentada (elementos que sempre deveriam estar presentes na reflexão teológica, mas que são frequentemente deixados de lado) a respeito do problema das emoções religiosas, um tópico que até hoje merece maior abordagem teológica. Alguns pontos negativos, porém, são a falta precisão na conceituação de emoção (ou afection, no original) e a tendência a considerá-la o único motor da ação humana, o que levaria a um determinismo emocionalista - segundo Edwards: "Não tomamos decisões ou agimos, exceto se o amor, o ódio, o desejo, o medo, ou alguma outra emoção nos influenciar" (p. 23) - que gera o seguinte problema: como poderíamos agir contra nossas emoções espúrias se são elas que determinam nosso agir?

Vale a pena conferir o livro A Genuína Esperiência Espiritual, disponível em nossa biblioteca.

* Apesar de apontado como um dos inspiradores do "hedonismo cristão" de John Piper, esse trecho mostra que algumas idéias (incapacidade de agir sem interesse próprio, satisfação como objetivo principal e não como produto do amor a Deus) dessa corrente teológica não seriam facilmente aceitas por Edwards (cf. Piper, John. Teologia da Alegria. São Paulo: Shedd)

** Todas as citações foram extraídas de: Edwards, Jonathan. A Genuína Experiência Espiritual. São Paulo: PES, 1993)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Os 10 mais assistidos de 2009


Divulgamos a lista dos vídeos mais assistidos de 2009 de nossa Biblioteca. O DVD mais visto com larga vantagem em 2009 foi a animação baseada nos quadrinhos de Charles M. Schulz, Snoopy. Outro destaque são os filmes dirigidos e produzidos pelos irmãos Kendrick, líderes da Sherwood Pictures, podutora de filmes criada pela Igreja Batista Sherwood em Albany, Georgia, Estados Unidos. Segue a lista completa.

1º - Snoopy Show - Charles M. Schulz (Darr Produções)
2º - Criaturas Incríveis - COMEV
3º - A Segunda Chance - Steve Taylor (BV Films)
4º - O evangelho segundo João - Philip Saville
5º - Deixados para trás - Vic Sarin
6º - Prova de Fogo - Alex Kendrick
7º - A Virada - Alex Kendrick
8º - Billy Graham - Gaither Film Productions
9º - Desafiando os gigantes - Alex Kendrick
10º - WALL-E - Andrew Stanton

sábado, 2 de janeiro de 2010

Fotos de nossa Biblioteca


Inaugurando nossa nova conta no Flickr, postamos essa bela apresentação de slides que passará a integrar o visual de nosso blog com fotos da Biblioteca e das pessoas que a movimentam: leitores, colaboradores, liderança. Enfim, esperamos que vocês gostem. Futuramente surgirão mais álbuns sobre as coisas que acontecem e acontecerão na Biblioteca nesse ano de 2010!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Dicas para um ano novo com Deus


De Filipenses 3.9-4.1 extraímos a aspiração que deve dominar todo o cristão biblicamente comprometido que deseja agradar a Deus e ter comunhão com Ele. O cristão está predestinado a ser semelhante a Jesus (Romanos 8.29) e o Espírito Santo trabalha constantemente para efetivar tal propósito (2 Coríntios 3.18). Em Filipenses, tal aspiração é resumida na expressão “ressurreição dentre os mortos”: “O que eu desejo é conhecer a Cristo e experimentar o poder da sua ressurreição, tomar parte nos seus sofrimentos, chegando a ser como ele na morte, com a esperança de alcançar a ressurreição de entre os mortos” (Filipenses 3.10). Há entretanto ações que o crente deve tomar para que tal meta espiritual seja plenamente realizada. Aqui vão as dicas bíblicas apresentadas no texto de Filipenses:

1) TEM COMO BASE A CAPACIDADE QUE VEM DA FÉ
“Se vivo em comunhão com Deus, não é com base na minha própria justiça, que vem da lei, mas sim com a que vem da fé em Cristo, a justiça que vem de Deus com base na fé.” Vs.1

2) CONSIDERA A TAREFA INACABADA
“Não quero dizer que já o tenha alcançado ou que seja perfeito, mas continuo a ver se o consigo, visto que para isso fui conquistado por Cristo. É certo, meus irmãos, que eu não penso ter já conseguido isso”. Vs.12, 13

3) ESQUECE O QUE FICOU PARA TRÁS E OLHA PARA FRENTE
“Esqueço-me do que ficou para trás e esforço-me por atingir o que está diante de mim.” Vs.13 (conf. Isaías 43.18-21)

4) ESFORÇA-TE PARA ALCANÇAR
“Esforço-me por atingir o que está diante de mim”. Vs.13. Esforçar é empregar todas as forças, toda a energia e diligência, para conseguir alguma coisa.

5) PERSEVERA NO CAMINHO
“Como quer que seja, continuemos na mesma linha que até agora temos seguido”. Vs.16

6) SEGUE BONS EXEMPLOS E SÊ UM BOM EXEMPLO
“Irmãos, sigam o meu exemplo e imitem também aqueles que vivem de acordo com o exemplo que eu vos dei.” Vs. 17

7)CARREGA A IDENTIDADE POR ONDE FOR
“Nós, porém, somos cidadãos do céu”. Vs.20. Em qualquer lugar e hora, somos cidadãos do céu. É a nossa identidade imutável e que não é “situacionista”.

8)VIVE HOJE COMO SE FOSSE AMANHÃ
“De lá esperamos que venha o nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo” – vs.20. A canção “Carta à República” de Milton Nascimento e Fernando Brant canta: “E foi por ter posto a mão no futuro que no presente preciso ser duro, eu não posso me acomodar”.

Jürgen Moltmann escreveu: "Quem espera em Cristo não pode mais contentar-se com a realidade dada, mas começa a sofrer por causa dela, a contradizê-la. Paz com Deus significa inimizade com o mundo, pois o aguilhão do futuro prometido arde implacavelmente na carne de todo presente não realizado“ (J.Moltmann, Teologia da Esperança. -São Paulo, 1971, pg.9).

Que, em 2010, coloquemos como meta prioritária da nossa vida essa bendita e santa conformação do nosso ser à semelhança de Cristo. Sigamos essas dicas bíblicas, fazendo assim a “nossa parte” nesse projeto e aspiração divinos.

Pr. Josué Mello Salgado